quarta-feira, 10 de março de 2010

Escolhas.

Cinco dias. 
É mais ou menos esse tempo que eu não dou as caras por aqui. Ah, claro, “aqui” à que me refiro, nada mais é que a internet.
É engraçado, não é? Ficamos às vezes semanas, meses sem nos comunicarmos com parentes e amigos e quando passamos míseros dias longe dessa máquina tão útil, o computador, todos pensam que você se acidentou, morreu, quem sabe? Acostumamos a ter mais contato uns com os outros virtualmente do que pessoalmente e... Quando até mesmo esse contato acaba, é como se algo muito importante nos fosse tirado. Algo mais presente e precioso do que um contato de pele, um sorriso ou um abraço. Realmente, muito estranho...
Há alguns dias desde que sumi, venho recebendo mensagens e ligações de pessoas preocupadas comigo. O ponto curioso disso tudo, é que algumas, nem sequer andavam falando comigo nos últimos meses. Então o que aconteceu? Você percebeu um belo dia que o meu nomezinho colorido não estava aparecendo na sua lista do MSN e pensou “Espera, tem algo errado aqui”? Ou coincidentemente nesse dia você não tinha mais ninguém com quem pudesse conversar e pensou em vir passar o tempo comigo? Ok, ok. Eu sei que não foi nada disso... Não, sejamos realistas, você sequer havia percebido isso, certo? Alguém te pediu pra tentar descobrir o meu paradeiro e, como estava de bobeira, você aceitou. Relaxe... Não finja, eu não estou magoada por isso. Só não me trate como se ainda fôssemos tão amigas quanto há um ano atrás. Sabe que não somos mais próximas... Sabe que embora eu ainda tenha carinho por você, nossos caminhos deixaram de ser o mesmo há tempos.

As pessoas se chocam quando eu digo que a internet se tornou algo vago pra mim. “O que deu em você?” ou “Está doente?” são as mais tradicionais, mas a “O que houve, o que está escondendo de nós?” também anda ganhando seu espaço no ranking de reações-dramáticas-exageradas-e-irritantes. Não é algo de hoje nem de ontem. É algo que vem acontecendo há mais tempo do que eu mesma posso lembrar. É algo que vem me fazendo mal e que à cada dia que passa me deixa ainda mais perturbada. Nada mais é como antes... As amizades, a diversão, o prazer em ligar o computador e passar horas falando abobrinhas com as amigas e amigos apenas pra rir das frases non-senses, nada. Tudo isso acabou. Eu ganhei coisas no meio-tempo em que as mudanças ocorreram, mas não consigo deixar de pensar que perdi muito mais.
“Todos estão perguntando de você”. Não, não estão. A quem queremos enganar? Ultimamente somos nós duas e mais um punhado de pessoas que dá pra contar no dedo de uma só mão, qual é! Eu acredito em você, acredito na sua amizade, e sinceramente, você e esse punhado de pessoas são as únicas coisas que ainda me fazem ter um resto de vontade de retomar tudo. Mas a essência do que tínhamos... Me diz, você sabe onde foi parar? Não sente saudades dos tempos em que viajávamos na imaginação e criávamos um mundo surreal e paralelo ao nosso sem perder a esportiva da coisa? Eu sim. E eu sei que dizia que não, mas mais uma vez... A quem eu quero enganar? Perdemos umas às outras e logo... Eu sei que vou acabar perdendo você, e as que sobraram. Isso não te assusta?

Houve um tempo remoto em que eu sorria quando via pessoas de quem gostava juntas, saindo, se dando bem. Isso me dava uma sensação de dever cumprido, como se fosse graças à mim que elas se aproximavam. Mesmo sabendo que não era, eu ficava radiante... Com um pouquinho de ciúmes, mas ainda assim radiante. E sabe o que eu me tornei hoje? Uma egoísta mimada que inveja a vida alheia. Você sabe, eu já te contei isso antes. Eu não gostei de não poder estar lá, em um dos dias mais importantes da sua vida, talvez o mais perfeito pra você até agora. Eu não vi, eu não li, e tampouco quis me interar... E tudo isso, apenas porque eu fiquei enfurecida de não poder compartilhar essas alegrias com você... No caso, vocês. E olha só que grande merda... A culpa não era minha, nem sua, nem de ninguém. Eu simplesmente não podia estar com vocês por “forças maiores”, e mesmo sabendo disso eu agi como se fosse tudo um complô que armaram pelas minhas costas, com o único intuito de me excluir.
Aí... Eu parei. Olhei pra trás e cai em mim, pensando no que diabos eu estava fazendo ou pensando. O que estava acontecendo comigo? Que espécie de amiga era eu? Ao invés de sorrir e desejar que se divertissem eu fiquei revoltada. Eu falhei no meu papel, assim como vinha falhando por dias, sempre magoando e descontando frustrações pessoais em quem jamais teve nada haver com isso. Belo trabalho, Raquel. Você conseguiu de novo. Agiu do mesmo jeitinho que as pessoas que mais repudia e despreza por achar essas atitudes inaceitáveis. Então... Eu me afastei. Eu matei a parte escura que havia em mim e desejei que ela jamais tivesse surgido. Me isolei, me mantive em silêncio durante dois dias e passei horas à fio deitada, olhando o nada enquanto pensava na vida que andava levando. Eu havia me colocado de castigo assim como a minha mãe fazia, na esperança de que essas coisas ruins que estava sentindo fossem todas embora. Caí em tentação duas vezes, vi o que não estava pronta pra ver ainda, senti raiva de novo... Prolonguei meu prazo de rehab e tomei vergonha, prometendo a mim mesma que não voltaria atrás. Eu estive o tempo todo ali observando vocês do meu canto, morrendo de vontade de explicar e de me desculpar pelas preocupações desnecessárias, mas eu não consegui... Porque tinha medo de falhar de novo.
Você sabe mais do que ninguém que eu estou longe de ser apenas complicada e ainda mais longe de ser perfeitinha. Eu sou um poço de bipolaridade constante que já fez muitas vítimas, até mesmo você. Mas sabe, eu estou trabalhando nisso, e muito! Eu quero mudar; eu escolhi mudar e voltar a ser aquela que todos gostavam. Não por eles, mas por mim. Escolhi deixar vocês em paz. Escolhi me recolher e pensar no que eu realmente preciso. Escolhi ficar sozinha, escolhi contrariar as leis da natureza e escolhi também vir aqui e dar o mínimo de satisfação aos que têm coração e memória.
Lamento se fiz vocês pensarem besteira... Lamento se fiz vocês perderem tempo pensando no pior quando a única morte que de fato ocorria era a minha morte interior.

Eu não estou pronta pra voltar ainda e muito menos de falar com vocês e, por favor, pare de dizer que não te considero. Você sabe que não é assim. Saibam que estou bem apesar de tudo, e quando voltar tudo vai ser bem diferente. 


Até lá... Fiquem bem.

- K.

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